quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Um ano de vida, depois da morte que quase experimentei. Aprendendo a Aprender...

               Hoje, 27 de Dezembro, é, para mim, a data mais importante entre tantas outras que já vivi. Essa data é mais do que única, mais do que singular... É a data que marcou para sempre meu corpo com as cicatrizes, parafusos e placas. É a data que marcou para sempre a minha alma, de uma forma que eu jamais saberei expressar.
               Estive programando coisas pra fazer e formas de agradecer as pessoas por tudo o que fizeram por mim há um ano. Depois, achei que não seria o suficiente e decidi não fazer nada. Cheguei a comentar que nem postagem alguma no face, blog, mensagens ou cartas, seriam escritos sobre este assunto. Porém hoje eu acordei com a sensação de que deveria sim me lembrar deste dia, demonstrar que me importo com ele e fazer com que outros se lembrem também.
               Deveria sim "comemorar" isso! A sensação que tenho agora, mas que vai mudar um dia, sem dúvida, é de que esta data é mais importante para mim, do que o dia que eu nasci, o meu aniversario. Mais importante do que o dia do que comecei a dançar, a tocar teclado e a  cantar. Mais importante do que o aniversario dos meus pais e irmão. Mais importante do que a data que iniciei meu namoro, ou a data que recomecei o mesmo. Mais importante do que os dias que entrei na faculdade, que fui morar sozinha e que, mesmo sem ter terminado, deixei a faculdade para traz. É mais importante do que os dias que marcam minhas maiores conquistas, vitorias lindas, experiências únicas. Mais importante, também, que os dias que cometi meus piores erros, e tive minhas maiores perdas...

Quem conviveu comigo naqueles dias, teve a impressão de que eu iria literalmente pirar, enlouquecer, talvez. Impressão de que eu não pararia nunca de repetir as mesmas histórias. De que por mais segura que eu aparentasse ser e estar, eu provavelmente não conseguiria fazer quase nada sozinha. Alguns cansaram de me ouvir comentar que por mais que eu quisesse crer, não conseguia acreditar completamente que meu rosto voltaria ao normal, que as tonturas tão fortes iriam parar, que as pessoas me tratariam como sempre tratavam antes, inclusive, a Mônica foi quem mais me ouviu falar sobre isso... E ao me lembrar dessas coisas, só posso afirmar, mais uma vez, o que eu vivia dizendo pra mim mesma, ou que a Geisla gostava de repetir e a Taynara dizia em cada conversa e e-mail que trocávamos: Tudo Passa!
E passou! As dores insuportáveis passaram, as repetições irritantes passaram, a maioria das marcas no rosto passaram... Graças a Deus, graças à misericórdia Dele que se renova a cada manhã, graças ao amor que só Ele tem por alguém como eu.
Não sei como denominar este dia, qual expressão usar... Nascer de novo, acredito hoje, ser a mais apropriada para o momento... Simples assim. Logo que voltei pra minha casa naqueles dias, não concordava com essa expressão, mas pensando hoje, é sim a melhor forma de dizer o que estou comemorando: Meu primeiro aniversário, primeiro ano de vida, depois da morte que quase experimentei.
Já falei que hoje não tenho seqüelas, que não tenho traumas devido a este acidente. Se eu não falar o que aconteceu para quem me conhece hoje, jamais alguém pode imaginar o que passei ha um ano atrás. O que sinto hoje posso chamar de gratidão, e sinto também constrangimento! Gratidão a Deus e às pessoas, pelo amor, pelo carinho, pela chance de continuar vivendo e continuar, simplesmente continuar... Constrangimento por tão grande amor, Dele e de mais algumas vidas que me cercam, demonstrando em detalhes que independente do que aconteceu ou deixou de acontecer neste ano, me querem bem, querem me ver bem.
Antes do acidente, escolhas eram feitas sem ao menos pensar sobre quais seriam as conseqüências... Eu fazia questão de que o mundo soubesse que eu existia, fazia questão de que as pessoas notassem a minha presença em qualquer que fosse o lugar. Digo realmente que o acidente foi um divisor de águas em minha vida. Foi sim, apesar de muitas coisas terem mudado não nos dias do acidente, mas mudaram no decorrer deste ano, em cada minucioso detalhe dos meus dias. Em cada amizade que foi semeada, em cada pessoa que se afastou... Eu aprendi a me deixar mudar, a realmente tentar melhorar, a fazer minhas escolhas... Detalhes me ensinaram a caminhar por um lugar onde vivo uma liberdade verdadeira, um caminho onde me libertei de mim mesma. Após o acidente aprendi a aprender, isso mesmo, aprendi a aprender com tudo o que me envolve, com qualquer situação que passei e estou passando... Aprendi até na minha maior perda, no adeus sem palavras à minha pérola negra, minha preciosidade, minha amiga, quem eu chamei de Mammy. A perda da Mônica Cristina de Oliveira. Este ano foi cheio de surpresas, de coisas inesperadas. Me ensinando que basta Deus olhar pra mim, para o meu coração, e ver como as batidas deste coração pulsam por amor a Ele, como meu ser depende Dele mais do que qualquer outra pessoa para sobreviver. Aprendi a viver mais particularidades com Deus me tornando mais íntima Dele. Aprendi que ser pública não me leva a lugar algum, e que a pessoa que mais precisa me conhecer já conhece. Hoje sei na prática que “os que são verdadeiros, permanecem”. Hoje sei que o mundo pode passar, mas a Palavra de Deus a meu respeito jamais passará. Aprendi que quem merece e precisa saber como eu realmente estou, quem precisa e merece conhecer quem eu sou intimamente, estará de alguma forma, próximo. Não é necessário cantar mais alto, dançar com mais expressão, escrever incomparavelmente, ou estar perfeita fisicamente... Não é necessário viver do jeito que todos esperam, mas é necessário viver mais que nunca, todos os dias, todos os instantes, no centro da vontade de Deus. Minha alma hoje tem as marcas de um ano que realmente, parece o primeiro da minha vida. Isso se eu puder chamá-la de minha, já que a entreguei completamente ao Autor e Criador desse trecho da história humana que sou eu, que se resume em mim. O Autor e Criador deste pedaço tão pequeno da história, desse milagre que sou eu.
Agradeço muito a Deus, porque como ninguém, Ele jamais desistiu de mim. Me conhecendo em cada partícula do meu ser, em cada pensamento ridículo ou importante, me conhecendo como ninguém, Ele não desistiu de mim e me proporcionou mais este ano de vida. Mais este novo aniversário. Agradeço novamente aos meus pais, Heder e Dinair, por acertarem e errarem comigo, por serem meus pais, simplesmente pai e mãe, neste ano e na vida inteira. Agradeço ao meu irmão, Saulo, que em todo tempo, principalmente deste ano, sei que trocaria de lugar comigo pra me poupar as dores que tive, dores físicas e dores na alma também. O irmão que eu escolheria ter por perto todos os dias! Agradeço ao Kally, que não sei ao certo como chamá-lo, namorado, parece pouco, mas significa algo em especial. Quem já me esperava ha um ano atrás, quem estava me esperando chegar daquela viagem, quem continua comigo hoje, e quem espero poder acompanhar pelo resto dos meus dias...
Simplesmente Agradeço... É muito grande a Gratidão... A todos que se envolveram comigo em qualquer que seja o momento, especialmente neste ano que completo hoje. A todos que ao menos se importarem ao ler isto.
Obrigada!

 
Dezembro de 2011


 
Novembro de 2012